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Sintonizando com Danilo Caymmi

Foto: Armando Paiva.
Publicado em 18/06/2023.

Por Belinha Almendra.

Mais de 4 décadas após o seu lançamento, “Cheiro Verde”, primeiro álbum solo do músico, cantor e compositor Danilo Caymmi, acaba de chegar às plataformas de streaming (lançamento digital TERRACAYMMI). Lançado em vinil em 1977, o álbum reuniu a nata dos músicos cariocas e mineiros, além de contar com a participação de Milton Nascimento em uma das faixas.

Com direção de produção de Ana Terra e direção artística de Danilo Caymmi e Ana Terra, “Cheiro Verde” foi um dos álbuns pioneiros da produção independente, que ganhou força no mercado brasileiro na virada da década de 1970 para 1980. Danilo Caymmi conversou com o Sintonizando sobre o relançamento de sua estreia fonográfica.

1 – Já em seu primeiro disco solo você lançou clássicos do seu repertório. Como foi a experiência de gravá-lo, em 1977?

“Cheiro Verde” é uma produção independente, gravada na esteira do disco “Feito em Casa”, do Antônio Adolfo, o pioneiro nesta experiência: eu fui o segundo. Ele nos passou todos os endereços onde poderíamos vendê-lo e nós viajávamos, Ana Terra e eu, com os discos debaixo do braço. Foram três mil cópias e a gente vendia diretamente, com nota fiscal, tudo direitinho. Como era uma produção independente, eu chamei músicos amigos para fazerem este trabalho comigo. Era um esquema colaborativo que se fazia muito na época: um tocava no disco do outro. A experiência de gravar “Cheiro Verde” foi maravilhosa, principalmente por conta do contato direto com o lojista, que não tinha nada a ver com o meu mundo de artista, viajando pelo Brasil às vezes até com a minha filha Juliana ainda pequena. O disco se popularizou muito, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, e virou um item “cult”. Fico muito feliz que ele esteja chegando agora ao alcance de todos.

2 – Há vários músicos de Minas Gerais em “Cheiro Verde”: a música dos mineiros o influenciou?

Eu não diria a música de Minas Gerais, mas a música que se fazia naquele momento. Quando os músicos e compositores mineiros chegaram ao Rio, trabalharam muito com os músicos cariocas, dentro daquele movimento que viria a ser chamado depois de Clube da Esquina. Além de mim, cito como exemplos Paulo Jobim, Paulo Guimarães, Maurício Maestro, vários músicos. Mas foi uma coincidência ter reunido vários músicos mineiros neste disco: na verdade, era o pessoal com quem a gente trabalhava muito no finalzinho dos anos 70, do meu círculo de amigos. Eu havia gravado no primeiro disco do Milton Nascimento, que sempre foi um amigo da família, então o convidei para participar deste meu disco de estreia.

3 – “Cheiro-verde” chegou a ser lançado em CD no Brasil, antes de chegar às plataformas?

As pessoas cobravam muito, porque o disco não chegou a ser lançado por aqui em CD, só no exterior. Virou uma raridade, um item de colecionador difícil de encontrar. Por isso também eu fico muito feliz com a oportunidade de relançá-lo, tantos anos depois. Ele tem músicas como “Codajás” (parceria com Ronaldo Bastos), que foi gravada brilhantemente pela Nana Caymmi, e ainda “Pé sem Cabeça”(parceria com Ana Terra), gravada pela saudosa Elis Regina.

Foto: Marcelo Ferreira.

4 – Dizem que foi Tom Jobim quem o intimou a voltar a cantar, quando você já integrava a Banda Nova, nos anos 1980. Foi assim mesmo?

Exatamente! Fui contratado para tocar flauta na Banda Nova, o Paulinho Jobim me chamou, mas o Tom sentiu que havia ali um potencial na minha voz e me chamou para cantar em dois solos importantes: “Samba do Avião” e “A Felicidade”. Isso foi um incentivo muito grande para mim, corri para aprender a colocar melhor a minha voz, entendê-la como um novo instrumento, porque em “Cheiro Verde” eu ainda não cantava no meu registro de barítono. Agarrei essa oportunidade com firmeza e a partir daí segui na minha carreira como cantor, já pela mão do grande Roberto Menescal, que me deu estrutura para gravar o meu primeiro disco de sucesso pela gravadora EMI.

5 – Mudando de assunto, você acredita que o setor cultural já tenha retomado o ritmo de antes da pandemia?

Acho que ainda não voltamos ao que era antes da pandemia. Além da pandemia, tivemos políticas públicas totalmente contrárias à cultura. Foi muito triste tudo o que aconteceu, mas o que sinto no momento é que, progressivamente, as coisas estão atingindo o ritmo normal. Temos a volta dos incentivos, a Lei Rouanet, a Caixa Econômica, assim como a Petrobras, empenhadas em investir na cultura. Estamos voltando gradativamente, eu acho que essa é a palavra certa.

6 – Quais os seus planos para o futuro? Pensa em um novo álbum?

Estou focado no álbum que estou gravando agora, que pretendo terminar ainda no mês julho. É um disco bem datado que vai se chamar “Andança, 55 anos”, no qual gravei várias canções dentro deste contexto, com obras muito bonitas e de extrema qualidade. Estou finalizando este projeto e quero lançá-lo assim que ficar pronto, nas principais plataformas de música.

Foto: Isabela Kassow.

Seguindo a trilha de Antônio Adolfo, pioneiro na produção independente com o seu “Feito em casa”, Danilo recorda: “A experiência de gravar o “Cheiro Verde” foi maravilhosa, principalmente por conta do contato direto que tivemos com os lojistas, um universo que não tinha nada a ver com o meu mundo de artista, de músico. Eu viajava com a Ana Terra pelo Brasil levando as três mil cópias do disco que fizemos. Hoje ele se popularizou principalmente na Europa e nos Estados Unidos, é quase um item icônico, o que me deixa muito feliz. Faltava estar disponível nas plataformas de música”.

A canção que dá título do álbum é uma das cinco parcerias de Danilo Caymmi e Ana Terra incluídos no projeto. A compositora assina ainda a direção de produção e divide com Danilo a direção artística do “Cheiro Verde”. “Foi uma grande aventura desde o início. Descobrimos com o Antônio Adolfo que havia uma outra forma de produção, a independente, e que Danilo poderia gravar suas próprias composições com sua bela voz herdada da mãe cantora Stella Maris, nascida em Minas Gerais, de quem herdou a “mineirice” citada na faixa de abertura do disco: ‘vou por aí levando um coração mineiro…’”, pontua Ana Terra. “Eu aprendi fazendo: criei a Ana Terra Produções para viabilizar todo o processo”, complementa.

Danilo escolheu as canções e, por se tratar de uma produção independente, passou a convidar os músicos para a empreitada: “Convidei o meu círculo de amigos para fazer este trabalho comigo, naquele esquema colaborativo muito comum na época, finalzinho dos anos 1970: um fazia parte do disco do outro”, conta Danilo.

O time era de craques, a começar por Milton Nascimento com vocais em duas faixas, (“Racha Cartola” e “Lua do Meio-Dia”); além dele, Nelson Angelo (guitarra), Novelli e Fernando Leporace (baixo), Airto inal de julho ou agosto devo colocar nas principais plataformas.

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