Dona de uma trajetória erguida com rimas e propósito, quem assume o comando do Sintonizando de hoje é Preta Ary!
Conquistando cada vez mais espaço no cenário do hip hop nacional, a artista vem, há mais de 20 anos, construindo uma carreira marcada por luta, representatividade e autenticidade.
Com letras que são pura potência, ela transforma a sua experiência em arte. Cada um de seus versos é um instrumento de mudança, onde a verdade e o vigor de suas composições se manifestam. Preta Ary entrega em suas obras um pedaço de si: coragem, sensibilidade e um ideal inabalável.
Sua trajetória não se limita ao palco: reúne bagagem, rimas e narrativas que ressoam muito além! Mais do que uma MC, ela é arte-educadora, artesã e disseminadora de vivências que inspiram e transformam quem cruza seu caminho.
Vem sintonizar com Preta Ary!
Para começar, conte um pouco sobre a sua trajetória na música. Como surgiu sua conexão com rap?
Iniciei minha jornada como cantora de hip hop em 2004, e a cultura se tornou meu estilo de vida. Na cena de São José dos Campos, integrei o Comando 11 em 2007 e o S.A.F.A.R.I. em 2008. Com este último, lançamos o EP “Muito Prazer” em 2012, produzido por Skeeter Beats no Estúdio Pura Rua, e ele teve ótima recepção.
Em 2013, lancei “Nossas Garotas” (produção Esquina da Gentil e finalizado no Pura Rua). Essa canção expressa minha preocupação com o tráfico de meninas e mulheres para fins de exploração sexual, um tema urgente que transformei em protesto através. Seu impacto foi tão positivo que ganhou um remix em 2016, produzido por Ricardo Móck e lançado pelo Estúdio Quebrada Groove, como parte da série “Quebrada Groove Convida” no YouTube.
Fui também integrante do grupo D’Origem, ao lado de Meire D’Origem e DJ Malako. Lançamos o EP “Se Renda” em 2015, produzido por Eduardo Dö e Skeeter Beats, novamente pelo Estúdio Pura Rua, consolidando nossa presença no cenário musical. A partir de 2018, comecei minha fase solo e de parcerias. Nesse ano, lancei meu primeiro trabalho sozinha, “Tá no Jogo” (com Killa Bi e Ju Dorotéa), e a música e o videoclipe “Nóis Tá de Olho”. Participei de “O Rap é Preto”, a convite de Nego Max, e de “Na Luta”– com Meire D’Origem e Cris SNJ.
Em 2019, participei do disco “Próspera” de Tássia Reis, e lancei “Emergência”, um som que engrossa o coro das vozes de mulheres pretas brasileiras. Em 2020, lancei a composição “Intenção”, com Eloy Polêmico e Tatiana. Em 2021, apresentei dois novos sons, “Por Nós” e “Nossas Garotas”, via live session Wasabi Sessions. Nesse mesmo período, participei do clipe “Shonda D+”, ao lado de Tássia Reis e Urias.
Em 2023, estive na Cypher Minas Na Cena, ao lado de Edd Wheeler, SoulRa, Thalilua e Iana, produzida pelo Studio Maré Music. Essa cypher deu origem a um documentário exibido pela Cultne TV. Também participei da faixa “Mil Palavras” –com Mel Duarte e Felipe Parra e lancei o single “Na Quebrada”.
Atualmente, somo mais de 390 mil plays no Spotify, com cerca de 5 mil ouvintes mensais. Meu último lançamento traz cinco canções inéditas gravadas ao vivo em session pelo projeto Feat Saci, de Taubaté (disponíveis em todas as plataformas digitais e no Youtube).
Em 2024, celebrei 20 anos de carreira e sigo trabalhando. Continuo reafirmando que cada vez mais artistas femininas estão cantando rap, quebrando tabus e preconceitos. Sou prova viva de que as minas têm força e fazem acontecer.
Além de cantora e compositora, você também atua como arte-educadora e é fundadora da marca Negrita Arteira. Como é conciliar todas essas frentes?
É um desafio, mas também é algo muito natural para mim, porque tudo que eu faço nasce do mesmo lugar: da arte, da ancestralidade e do desejo de transformar o que me atravessa em expressão.
Seja no rap, nas oficinas ou nas bonecas da Negrita Arteira, o que me move é o mesmo propósito: fortalecer nossa identidade, contar nossas histórias e abrir caminhos para outras pessoas pretas se verem e se reconhecerem. Então, no fim das contas, tudo se conecta. Cada uma dessas frentes alimenta a outra e me mantém viva dentro da arte.
Quais têm sido os maiores desafios para você, como artista e mulher negra, na construção do seu espaço dentro da cena musical? E o que aprendeu nesse caminho?
Os maiores desafios têm sido ocupar espaços que historicamente não foram pensados para nós, mulheres negras. É ter que provar o tempo todo que a gente pode estar ali, que nossa arte é potente, profissional e necessária.
Enfrento barreiras que vão desde a falta de oportunidades até o racismo e o machismo, que ainda atravessam a cena musical. Mas tudo isso também me ensinou muito. Aprendi a me fortalecer na caminhada, a me apoiar nas minhas e nos meus, a criar meus próprios caminhos quando as portas não se abrem.
Aprendi que a arte é uma ferramenta de resistência, e que cada conquista minha não é só pessoal, é coletiva. É sobre abrir espaço para que outras mulheres pretas também possam chegar.
Olhando para frente, o que podemos esperar da Preta Ary? Há novos singles, um álbum ou algum projeto especial a caminho?
Podem esperar uma Preta Ary cada vez mais madura, com mais consciência da minha caminhada e do que quero comunicar através da música.
Estou trabalhando no meu primeiro álbum, previsto para o primeiro semestre de 2026, um projeto muito especial que celebra meus 20 anos de carreira e toda a trajetória até aqui.
Além disso, sigo criando novas parcerias, participando de projetos que dialogam com a cultura e com o fortalecimento das mulheres negras dentro do rap. Vem coisa boa por aí e pode ter certeza que é som com propósito, verdade e identidade.
Como tem sido sua experiência com a Abramus?
Minha experiência com a Abramus tem sido muito importante nesse processo de profissionalização da minha carreira. Acho que, para quem vem da cena independente, entender e valorizar os direitos autorais é um passo essencial: é sobre reconhecer que nosso trabalho tem valor e precisa ser respeitado também no campo jurídico e financeiro.
Ter uma associação que faz essa ponte e garante que a gente receba pelos nossos trabalhos faz toda diferença. É um aprendizado constante, e me fortalece enquanto artista que constrói sua caminhada com consciência e autonomia.