Cantora e compositora, com um repertório de tirar o fôlego, Paula Cavalciuk é, sem dúvida, uma das vozes mais interessantes da nova MPB. Suas canções cheias de personalidade vêm conquistando admiradores por onde passa.
Depois de uma pausa na carreira, Paula retornou em grande estilo com o álbum Pangeia. Profundo, sincero e absolutamente cativante, o disco não só garantiu à cantora uma indicação ao Prêmio APCA, como também foi eleito um dos melhores álbuns nacionais de 2024.
Em suas canções, Paula entrega um brilho único, capaz de capturar o ouvinte do início ao fim, conduzindo-o por histórias que emocionam e surpreendem.
Se você ainda não se deixou levar pelo talento dessa artista, a hora é agora. Vem se sintonizar com Paula Cavalciuk!
Para começar, pode nos contar como a música entrou na sua vida?
Não sei dizer se a música entrou na minha vida ou se a minha vida já começou sendo música. Sempre foi tudo muito musical lá em casa. Desde pequena, minha mãe me levava à igreja católica, e nós cantávamos nos ritos, missas, terços e procissões. Havia também o gosto do meu pai por músicas do mundo todo. Carrego até hoje os discos de vinil da infância: cururu, bolero, guarânia, polca (russa e paraguaia), Beatles, Bee Gees.
A música sempre esteve nesse lugar vital e, ao mesmo tempo, despretensioso. Às vezes, religioso, movida pela admiração e contemplação e também no fazer musical como um hobby. O bichinho da música me “picou” de vez quando comecei a estudar em Sorocaba. Ampliei meu círculo de amizades e conheci pessoas com gostos musicais, senso estético, político e ético muito alinhados aos meus. Foi onde conheci o Vinicius Lima em uma roda de violão no colégio técnico — eu cursava Administração e ele, Construção Civil.
Alguns intervalos começaram a se estender, com violões até o fim das aulas. Chegou ao ponto de o diretor proibir a entrada de instrumentos musicais na escola. A solução? Passamos a não entrar mais na escola: íamos direto para a pracinha atrás do quarteirão.
Depois de alguns encontros com um público cada vez maior, minha cunhada e meu irmão nos perguntaram se gostaríamos de investir em equipamentos de som para tocar à noite. Foi aí que começamos a encarar a área como profissão — isso foi em 2010. O despertar artístico veio mesmo em 2014, com o primeiro show autoral.
Depois de uma pausa, você marcou sua volta com o álbum Pangeia. Como foi resgatar sua identidade artística nesse novo momento da sua carreira?
Já começo falando sobre o desafio de ter gravado um disco estando com oito meses de gestação. Minha voz era outra. Meu corpo, meu estado de presença também. A porcentagem de água no organismo, a compressão dos pulmões e de todos os órgãos internos para acomodar um bebê grande, prestes a nascer, influenciaram diretamente na gravação. É um registro vocal muito específico — meu ensaio gestante.
Esse período de “afastamento” envolveu uma pandemia e a gravidez. Mas, mesmo antes disso, eu já atravessava um momento delicado. Precisei cuidar da saúde mental e me ausentei para não fazer escolhas equivocadas.
A ideia deste disco, Pangeia, me acompanha desde 2015, quando compus a canção de mesmo nome. Tamanha era a importância que eu atribuía à mensagem que queria transmitir, que senti que precisava esperar, amadurecer e formular melhor. Essa mensagem veio mais completa e robusta com as músicas que foram sendo compostas depois.
Sem contar a sonoridade da viola do Anderson, que encaixou perfeitamente — e nós também nos casamos. Foi um encontro e tanto! Fala-se muito sobre o tempo que “não foi”, mas às vezes ele acontece exatamente quando deve acontecer.
Após o seu retorno à música, você foi indicada ao prêmio APCA — um reconhecimento significativo no cenário artístico. Como foi para você receber essa indicação?
Esse reconhecimento por meio de prêmios é realmente algo muito especial. Fiquei extremamente feliz!
Meu trabalho não conta com lobby, não tenho empresário, investidor ou produtor famoso. O que procuro é uma boa assessoria de imprensa, e juntas pensamos em uma estratégia que contemple um cronograma de lançamentos dentro do ano vigente. Com isso, tive uma recepção excelente por parte da crítica especializada.
Em 2016, com Morte & Vida, também fui indicada, na categoria Artista Revelação. No ano passado, veio uma nova indicação, e fiquei profundamente feliz — ainda mais por se tratar de um trabalho totalmente independente, feito com esforço, dedicação, voz, mãos e financiamento coletivo.
Anderson Charnoski, músico e arranjador do disco, e eu trabalhamos nos arranjos e gravações dessas canções por cerca de dois anos. Então, quando chega uma indicação como essa, é como se colocassem uma luz sobre o nosso trabalho. É um reconhecimento entre os pares.
A APCA é extremamente respeitada, e eu fiquei muito alegre ao ver a capa do meu disco ao lado de artistas tão consagrados. Pangeia está entre os discos brasileiros mais relevantes de 2024, segundo a APCA. Acho isso absolutamente incrível!
Além de ser cantora, você também é compositora. Quais são suas principais fontes de inspiração?
O processo de composição varia um pouco… Na maioria das vezes, surge primeiro uma melodia, e então busco uma harmonia enquanto penso sobre o que gostaria de expressar. A partir daí, vou pensando nas palavras e em onde elas podem se encaixar — na dança, no movimento que elas alcançam — e o processo vai fluindo.
Preciso de silêncio para organizar as ideias. Hoje, sendo mãe, meu tempo de silêncio é muito escasso — e o tempo destinado à criatividade, ainda menor. Houve um tempo em que eu nem precisava me preparar: as ideias simplesmente fluíam e, quando sentia que era o momento de trabalhar sobre elas, eu me sentava e escrevia.
Hoje, preciso me colocar mais conscientemente no processo. Meu tempo é mais limitado; não dá para esperar a inspiração chegar como um beija-flor agraciando o jardim — preciso me condicionar um pouco mais. Por outro lado, a inspiração que veio com a maternidade me transformou.
E, por último, como tem sido para você fazer parte da Abramus?
Eu acho a Abramus excelente! Toda vez que precisei de orientações, encaminhamentos e solicitações, fui atendida muito atenciosamente.
E acredito que artistas e associações podem estar juntos na luta para dignificar o repasse de direitos autorais por parte das plataformas de streaming, no sentido de tornar mais justo esse repasse.