Fernando Faro – Trechos da história da MPB

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Fernando Faro – Trechos da história da MPB

Com quase meio século dedicado à música e televisão, Fernando Faro conviveu com os maiores nomes da MPB.

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Um sergipano, de fala mansa e pausada. Jornalista, diretor e produtor, Fernando Faro foi o responsável por criar programas com estética diferenciadas. Na década de 1960, inovava com atrações como Divino Maravilhoso (da TV Excelsior), a primeira versão de Móbile (na Tupi), TV de Vanguarda (Tupi). Há mais de 20 anos ele esteve no ar com o programa Ensaio, atração inspirada em outra criação sua, o MPB Especial, de 1969, ambos na Cultura. A fórmula, de não deixar a pergunta ser ouvida pelos telespectadores e fazer grandes closes no artista, inovou e se manteve eficiente e cativante. Grandes nomes da MPB foram entrevistados por Faro.

Além disso, Faro produziu discos de artistas como João do Vale, Clementina de Jesus, Baden Powell, Paulinho da Viola e Cristina Buarque. E foi em um bate-papo descontraído com o gerente-geral e o presidente da ABRAMUS, Roberto Mello e Walter Franco, que Faro dividiu suas lembranças. Acompanhe os melhores momentos desse encontro, publicado originalmente na Revista ABRAMUS #12.

Roberto Mello: Faro você tem muita história para contar. Quanto tempo você ficou na TV Tupi?

Fernando Faro: Fiquei 13 anos.

RM: E na Cultura?

Fernando Faro: No fim da Tupi eu vim para a Cultura. Aí eu fiquei de 69 até 76, depois saí e fui a Globo onde fiquei dois anos e meio.

RM: Na Globo no Rio ou em São Paulo?

Fernando Faro: No Rio. Fazia um programa chamado Brasil Especial, que era dirigido pelo Augusto César Vanucci e o Boni passou para mim. Depois saí e voltei para a Tupi, onde fiquei até o seu fechamento em 1980. De lá fui para a Bandeirantes fazer um programa chamado Noventa Minutos. Eu ficava em uma cadeira e ao meu lado sentava Adoniran Barbosa. Lembro que uma vez chegou um cara lá, não me lembro quem, e disse assim: está aí o ministro do exterior de Moçambique. Decidimos fazer um programa com ele. O Adoniran pediu para perguntar quem foi o primeiro ministro civil chefe da casa militar. Eu disse: Pô, Adoniran! Não dá fazer uma pergunta dessas para o ministro! Aí ele respondeu: Pergunta, duvido que ele saiba (risos).

RM: E sobre a sua convivência com Vinícius de Moraes?

Fernando Faro: Ele foi um irmão, um pai para mim. Ele tinha lições para a gente o tempo todo. Uma das últimas vezes que eu o vi, ele estava internado em uma clínica em São Vicente. Lembro que eu passei na casa do Chico (Buarque) e disse: “Baixo estou indo ver o Vini”. Ele perguntou se poderia ir comigo. Fomos nós dois. Na clínica, a Gilda Mattoso – a última mulher do Vinícius – avisou que o Chico Buarque e o Baixinho, o Faro, queriam vê-lo. Ele me olhou e disse: “F.d.p. porque você não veio me ver antes?” (risos). Depois, pegou a minha mão e ficou segurando. Quando saímos de lá, ainda no corredor, o Chico disse: “Baixo, acho que perdemos o Vini. E perdemos, pouco depois ele morreu”.

RM: Tem uma história de que uma noite ele chegou na sua casa reclamando do serviço da casa do Toquinho, dizendo que não estava bom…

Fernando Faro: Não foi à noite, foi de manhã. Ele chegou com uma maletinha na mão e eu logo perguntei o que havia de errado. “Ô Baixo, eu vim ficar com você, porque o serviço no apartamento do Toco está muito ruim”, respondeu.

RM: Você chegou trabalhar com o Caetano Veloso, Faro?

Fernando Faro: Eu fiz com o Caetano aquele programa Tropicália, na Tupi. Era com ele, Gil, Gal, Tom Zé e Jorge Ben.

RM: Quanto tempo durou o programa?

Fernando Faro: Não foi muito, uns quatro meses apenas.

RM: Mas esse programa mudou tudo. Antes tinha um conceito muito certinho, muito exato…

Fernando Faro: É aí eles chegaram e desmontaram tudo.

RM: Você lembra da passeata contra a guitarra?

Fernando Faro: Mais ou menos (risos). – Ver quadro abaixo –

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RM: Entre tantos que passaram pela sua vida, por sua casa, quem foi o mais engraçado?

Fernando Faro: O Cyro Monteiro. Ele pegava aquele trem que fazia o percurso Rio – São Paulo de noite e chegava às 8 da manhã. A primeira coisa que fazia era ligar para mim contando que iria para minha casa. Eu reclamava da hora e ele logo respondia: “Ô Baixo, eu não vou atrapalhar, vou ficar na sala, quietinho. É porque sua casa tem uma aura muito boa”. E assim ele ficava lá.

RM: Você esteve com o Nelson Cavaquinho várias vezes, não?

Fernando Faro: Sim, uma porção de vezes. Acho que o último show que ele fez foi em uma boate chamada Via Brasil. Eu pedi para ele me ligar quando pegasse o avião no Rio que eu mandaria um carro buscá-lo no aeroporto em São Paulo. Fiquei esperando e nada. Por volta das 5 horas da tarde, estava preocupado e resolvi ligar para a mulher do Nelson e perguntar dele. Ela disse que ele havia saído cedo do Rio para me encontrar em São Paulo. Eu comecei a telefonar para todas as emissoras. Lá pelas 8 horas da noite recebi um telefonema do Mineiro, um produtor, dizendo que havia encontrado o Nelson em um bar. Ele contou que o sambista chegou no lugar, olhou para o garçom e perguntou: “O Faro está aí?”. Então, o garçom respondeu que não conhecia nenhum Faro. Eu pedi para o Mineiro segurá-lo lá. Ele ficou o dia inteiro no bar, eu o levei para o Via Brasil para ele fazer o show. A apresentação terminava legal, com a música Folhas Secas que no final dizia: e assim vou me acabando…

RM: E como era a sua relação com o Tom Jobim?

Fernando Faro: Era muito boa. Não era igual à minha relação com o Vinícius.

RM: E o Paulinho da Viola? Ele vinha do Rio de Janeiro para jantar com você perninhas de rãs, não é?

Fernando Faro: É verdade, aliás o Paulinho me ligou ontem e ficamos 45 minutos no telefone.

RM: O Paulinho é uma das pessoas mais suaves e delicadas que existem.

Fernando Faro: Ele e o pai, César Faria… Aliás, o Paulinho é um grande lutiê, faz violões e violas. É também um grande colecionador de carros. Na casa dele tem aqueles carros antigos, tipo, Fusca, SP2 e uns três Karmann Guia.

Walter Franco: Você entrevistou o Jamelão no programa Ensaio também?

Fernando Faro: Sim. O Jamelão foi engraçado. Ele chegou e perguntou por que eu falava de gente morta. Eu disse: “Pó, Jamelão eu quero saber as histórias das pessoas, por exemplo, o Cravinho”. Aí ele disse: “Lá vem você com história de gente morta” (risos). O Cravinho foi o cara que trabalhava na noite e deu o primeiro emprego para ele.

RM: E a Elis?

Fernando Faro: Ela viveu em casa. Eu lembro que o Roberto Oliveira, que naquele tempo trabalhava na Bandeirantes, me ligava e dizia: “Baixo, faz um especial com a Elis”. Eu a convidei e ela aceitou e disse que gostaria de pegar uma música do Lupicínio Rodrigues. Eu coloquei várias, entre elas Cadeira Vazia. Lembro que ela ouviu e disse que cantaria aquela. Eu fiquei esperando ouvir a voz dela ensaiando à noite, e nada. Cantou no especial, sem ensaiar. Então quando eu fiz o disco com o Adoniran Barbosa, liguei para ela e a convidei para participar. Ela aceitou. Combinamos às seis horas da manhã. Ela apareceu pontualmente e eu perguntei o que ela queria cantar. Ela disse: “Não sei, Baixo. Você não tem nada para mim?”. Eu respondi que tinha, mas se ela não queria fazer alguma do Adoniran. Aí ela disse que gostaria de cantar Tiro ao Álvaro. Ela pediu para chamar o Adoniran para cantar, em 20 minutos aprendeu a música, gravou, mudou um pouco e finalizou. Ela era impressionante!

RM: Eu acho que a mulher que mais mexeu com a música brasileira foi a Elis Regina.

Fernando Faro: Sim, porque ela tanto cantava Renato Teixeira como Milton Nascimento, João Bosco, Caetano…

RM: Em sua opinião, quem foram as cinco maiores cantoras brasileiras?

Fernando Faro: Elis Regina, Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Maria Bethânia e Gal Costa.

RM: E os cinco cantores?

Fernando Faro: Orlando Silva, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e Walter Franco.

Walter Franco: Obrigado (risos).

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